Wednesday, September 13, 2006

Viva São Gonçalo!!!

Final de curso. Projetos, corre-corre, textos e mais textos, monografia. E o fluxograma, não me deixando esquecer: Prática Pedagógica III. Traduzindo: pra ganhar esse maldito creditozinho, seria preciso que eu, com a maior cara de pau, entrasse numa sala de aula e “ensinasse” a um grupo de alunos espinhentos do Segundo Grau, Ensino Médio, ou seja lá o que os senhores preferirem, algum episódio da história do nosso querido Brasil.
Havia tido sorte até ali. Nas outras práticas, a coisa até que tinha sido muito mole. Na I, a professora optou que nossas aulas tivessem como platéia, os nossos próprios colegas de curso. No início a idéia não me agradou muito. É péssimo ser avaliado por alguém que entende tão bem (pelo menos hipoteticamente) do assunto como você. Mas depois fiquei calmo. Por um capricho do destino ou descuido da UERJ, caí numa turma de Matemática. Ou seja: eu não dava pitaco no Teorema de Báskara deles e eles não enfiavam o nariz no meu Processo de Independência!
Escolhi meu tema. Cultura. Esses são os melhores temas para quem teme não dominar qualquer assunto. Temas livres. O resto foi mamão com açúcar!. Sempre fui meio artista, devo confessar. Pus minha veia shakespeareana pra fora e conquistei a platéia. Nota máxima!
Na Prática II, idem. Rede estadual em greve, sobrou os colegas se prestarem a escutar meu blá-blá-blá novamente. Mas dessa vez era diferente. Eu estava numa turma de História! Era preciso não vacilar... Dei aula sobre as influências estrangeiras que nossa cultura sempre sofreu. Yes! O pessoal amou e só faltou aplaudir de pé.
Na III não tinha jeito. A professora não pensou duas vezes e tratou ela mesma de escolher a escola em que nossas aulas seriam ministradas. Nem esse direito a gente tinha! Dessa forma, duas vezes na semana, lá ia eu, às duas horas da tarde, debaixo de um sol de estourar mamona, o almoço fazendo peso no estômago, assistir aula de História do Brasil. Sim, porque além de dar aula, eu deveria fazer um estágio de “observação”.
Chegada a hora de transmitir meus conhecimentos à juventude sedenta de saber, a professora quis porque quis me empurrar uma turma de vestibular. Amarelei. Moleque querendo passar no vestibular, sempre quer aparecer! E se fizessem uma pergunta que eu não soubesse? “Sinto muito, meu amigo, mas eu vou pesquisar e amanhã te trago a resposta.” Fala sério, isso só funciona na teoria! Nunca, nunquinha que eu ia passar por uma situação dessas...
Fiz pé duro e consegui convencê-la a me “dar” a turma de terceiro ano do Ensino Normal. Normalistas são mais calmas. Tem muita didática pra se preocupar, não vão perder tempo com questõezinhas da história do Brasil. “Ótimo”, foi a resposta da mestra, “mas e o seu tema? Qual será?”
Qual seria? Pensei rápido. Meu tema seria...
São Gonçalo! A história da minha cidade!
Cabe aqui esclarecer que São Gonçalo é uma cidade fluminense, coladinha em Niterói, que os cariocas insistem em chamar de Niterói, assim como os americanos insistem em disser que Buenos Aires é a capital do Brasil, e que os niteroienses insistem em sacanear chamando de São Gongolo e outras coisas não tão agradáveis.
Ótimo. Tinha um tema. Faltava a aula. O pior.
Passei semanas estudando tudo que podia e não podia sobre minha cidade. Geografia, história, a origem, o fundador, até que me deparei com o dado mais curioso de minhas pesquisas... a história de São Gonçalo! São Gonçalo, o santo! Claro, evidente e lógico que não foi a história que se lê nos anais da Igreja, mas a história oficiosa.
São Gonçalo era um santo, digamos que... Sapeca! Isso pra ser light... Gostava de bebida, viola e mulher! Que fique claro aqui que tudo isso é lenda, senão os devotos do santo vão me linchar. Lenda ou não, o negócio pegou. Existia uma festa, não sei onde, que era em homenagem ao santo. Coisa louca! A única festa que reunia a nobreza e a plebe. Até os escravos participavam. São Gonçalo era tido como santo casamenteiro, desbancando Santo Antônio. E mais: santo da fertilidade. Na tal festa eram distribuídos delicados pãezinhos na forma de... pênis! A moça que comesse a broa, casava na certa! Loucura!
Não parava por aí. Quem já foi no carnaval de Olinda? Aqueles bonecões enormes de Homem da Meia-Noite e da Mulher do Meio-dia? Exatamente. Imagine o formato dos pãezinhos no tamanho dos bonecões! E o povo todo correndo atrás, gritando entusiasmado: “Viva, São Gonçalo! Viva!”
Dei dor de barriga. Putz, como eu falaria disso prum bando de moçoilas terceiranistas que levam Capricho pra sala de aula? Ficava até imaginando as risadinhas cada vez que eu pronunciasse a palavra pênis. E o piruzão tamanho gigante? Puta que o pariu!
Pro meu espanto, meu desempenho não foi diferente das outras vezes. Posso até me gabar, e digo, sem medo, que foi uma das melhores aula que já dei. Caprichei no teatro e as garotas ficaram de quatro! É claro que uma ou outra riu, aquele risinho tímido, escondido pela mão, mas o fato foi que São Gonçalo fez um sucesso estrondoso. As garotas queriam saber detalhes. Qual a dimensão do bonecão? E os pãezinhos? Havia de diversos tamanhos? Cores? Eram doces ou salgados? Por que eu não assei uns e trouxe de brinde pra turma?
Fui ovacionado. A professora da turma, que coincidentemente me deu aula de Educação Moral e Cívica na 8ª série, veio me parabenizar. Eu era um grande professor! A minha professora de Prática também disse o mesmo e fez questão de frisar que havia sido a melhor aula que tinha assistido até então.
Havia acabado. Finalmente. Missão cumprida. Cumpridíssima. Aquela tarde, voltei pra casa, satisfeito com os meus quatro créditos a mais no histórico. E um novo santo de devoção...

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